quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Histórias do Samba Paulista



São Paulo, início de 1724, no interior paulista na pequena cidade de Pirapora, às margens do lendário rio Tietê um grupo de pescadores encontram a imagem de um santo que aparentemente tinha as feições de Jesus. Eles achavam que se tratava de uma simples imagem perdida por algum devoto e decidiram então transportar para a cidade vizinha de Santana do Parnaíba e colocar em uma capela que lá existia. Este transporte se deu em um carro de boi que era conduzido por escravos que trabalhavam naquela região, ao conduzirem a imagem em uma antiga e esburacada estrada de terra a caminho de Santana de Parnaíba, um dos bois que puxava o carro empacou e em um atoleiro o carro virou e a imagem caiu sobre os pés de um dos escravos que cortejava a imagem de Jesus, escravo esse que nascera sem o Dom da fala. Mas ao cair a imagem sobre seus pés, este mesmo escravo falou: “ele não quer ir embora ele quer ficar aqui” espantados os outros membros do cortejo presenciaram o primeiro milagre do santo e então passaram a chamá-lo de ‘Bom Jesus.” Quando a notícia se espalhou, dezenas de pessoas passaram a visitar a peque cidade que então passou a se chamar Pirapora do Bom Jesus. Com os anos se passando, o número de romeiros á visitar a cidade em busca de um milagre se multiplicou de forma espantosa todos queriam uma graça do Bom Jesus de Pirapora.
Mas com a chegada das centenas de romeiros, a pequena cidade de Pirapora passou a organizar as romarias que tinha uma demanda bastante considerável e nas festas do santo, saiam em procissão pelas ruas da cidade até as embarcações que já posicionadas ficavam as margens do rio Tietê e assim a imagem do Bom Jesus navegava no leito do rio simbolizando a sua aparição.
Naquela época, o preconceito racial e social era tão viril e vistoso que em todas as manifestações de caráter religiosos relacionados á Igreja e ao santo, tinha uma imposição unânime em toda comunidade branca que freqüentava e organizava as procissões: “NÃO É PERMITIDO NEGROS NA PROCISSÃO” e assim com a exclusão do negro das festas religiosas, eles se refugiavam em um antigo Barracão e lá faziam o que hoje é uma das principais referências da samba paulista, o Samba de Bumbo. No interior do barracão os negros cantavam, dançavam e tocavam e ali reunidos em volta de um grande bumbo que segundo relatos era conduzido por Frederico Penteado (o Fredericão que alem de pai do bombo foi um dos fundadores do cordão carnavalesco Vai-Vai com seus amigos Sardinha e Henricão primeiro rei momo negro do carnaval paulistano.) e quando alguém queria puxar um canto, um ponto, um verso, tinha que pedir licença para o pai do bumbo e assim puxar seu lamento em forma de festa dança e muita resistência cultural. Um dos cantos que era mais puxado pelos negros que saíam da capital rumo á Pirapora era:

Oi Pirapora, oi Barueri
Oi Pirapora, oi Barueri
Quem tem dinheiro vai
E quem não tem que fique aí

(o autor desse canto é desconhecido sendo assim reconhecido como domínio público.)

(continua)


Patacori, Asè

T.Kaçula