terça-feira, 18 de setembro de 2012

INCÊNDIO NAS FAVELAS EM SÃO PAULO


E mais uma favela foi incendiada! Acidente ou higienização social?



É absurda a forma com que as justificativas sobre os inúmeros incêndios nas favelas de São Paulo são apresentadas para a sociedade brasileira. As explicações vão desde curto-circuito a velas que tombam e queimam as casas fragilizadas pela construção precária.
A favela do moinho, nome dado por estar localizada no antigo moinho do Bom Retiro na região central de São Paulo, foi vitimas de mais um lamentável “acidente” nesta manhã de segunda feira dia 17 de Setembro. Um incêndio de altíssima proporção queimou quase todos os 50% restantes do incêndio anterior que ocorreu no dia 23 de Dezembro de 2011 no mesmo local.
Para quem não conhece a localização da favela do moinho, fica nos baixos do viaduto que liga a Av. Rudge com a Av. Rio Branco no centro da capital o que, político-sociologicamente falando, do ponto de vista urbanístico implica numa política de habitação que possa proporcionar uma moradia digna e confortável para as famílias que residem neste local. Mas, o que vemos quando “acidentes” como este de hoje acontecem, é uma política de higienização social pautada de forma despercebida na corrida pelo ouro da especulação imobiliária que, a partir do novo plano diretor estabelecido para o projeto de reurbanização da cidade, não mede esforços para garantir o projeto de elitização do centro da cidade expulsando as famílias de baixa renda da região central alocando-as em bairros bastante distantes e, em alguns casos, em outros municípios.
Quando não é por vias inspiradas por Nero, a higienização empreendida pela prefeitura acontece pela força. Um exemplo do que discuto foi a ação policial na vulgarmente conhecida “cracolândia” no semestre passado que fez uma “limpeza” étnica e social no centro velho de São Paulo expulsando moradores de rua, usuários de drogas e crianças em risco social que vivem há anos amparadas pelo abandono e pelo descaso do poder público que, não só abandonou socialmente estes cidadãos mas, também, abandonou este local como sendo um local à parte da discussão da cidade e agora, com a chegada do “grande evento esportivo” a elite paulistana quer tomar o território central lançando mão da ética social e política fomentando e fazendo com que a população mais carente acredite que não é possível se fazer política para quem mais precisa.
Os grandes pós-modernistas que fizeram história na escola de Chicago, pensavam as grandes cidades do ponto de vista urbanístico como sendo um lugar importante nas relações sociais no sentido de se criar maneiras urbanizarem as cidades sem interferir nos direitos dos cidadãos. Contudo o que vemos em São Paulo é exatamente o contrário, há um plano diretor que estabelece a reurbanização do centro, bem como as grandes obras na grande Itaquera, que está afastando as famílias de baixa renda dos locais onde as empreiteiras, os donos de hotéis e mega empresários estão interessados em empreender fazendo com que estas áreas sejam rapidamente desapropriadas para dar lugar a Estádios de futebol, hotéis de luxo e outros empreendimentos elitistas e inacessíveis ao grade público como bem discute a escola de Amsterdam com a ideia dos enclaves sociais.  
Os incêndios em favelas aqui na cidade de São Paulo estão ficando cada vez mais comuns, pois só este ano foram registrados 68 incêndios em favelas do centro expandido e às margens da região metropolitana.
Uma cidade que tem o titulo de maior cidade da America Latina não pode empreender uma política higienista e elitista e levar este plano diretor até as ultimas consequência colocando milhares de vidas em risco de morte como, infelizmente, ocorreu no incêndio de hoje.
Entendemos que, uma cidade com a proporção territorial que se compara a um país na Europa como é a cidade de são Paulo tem o papel e a responsabilidade de ser uma grande e moderna cidade gerando mais empregos, mais cultura e mais qualidade de vida para as pessoas, mas deve, contudo, criar políticas públicas que venham de encontro com as necessidades que emanam do seio de nossa sociedade e, malgrado, temos a mais convicta certeza de que a sociedade brasileira, e não apenas a sociedade paulistana, clama por uma política social que respeite a constituição federal e que possa cumprir, do ponto de vista e do pensamente de Jean Jaques Rousseau, o contrato social pautado na ética, moral e igualdade social.
Democracia social já!!!

T. Kaçula
Sambista e Sociólogo