segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Imortal Nenê e sua Vila Matilde!

Nos idos de 1949, nascia uma das principais Escolas de Samba de São Paulo.
Com a finalidade de divulgar, preservar e principalmente manifestar uma das principais manifestações culturais do Brasil, a Escola de Samba Nenê de Vila Matilde leva o nome de seu mais ilustre dos fundadores o mestre Alberto Alves da Silva “sambisticamente” conhecido por Nenê nome dado pelo Pai que era um fanático pelo Samba Carioca.
Desde a fundação da gloriosa Escola de Samba, seu Nenê comandou a comunidade da Vila Matilde por 47 (Quarenta e Sete anos) conquistando 11 (Onze) títulos no carnaval Paulistano e, ao lado de grandes sambistas como: Inocêncio Tobias (o Mulata), seu Carlão do Peruche, Madrinha Eunice e Pé Rachado, foi um dos protagonistas no processo de organização e desenvolvimento do Samba e do Carnaval Paulistano e era conhecido como um dos cardeais do samba paulista.
No início da década de 2000, seu Nenê recebe o titulo de Cidadão Paulistano na Câmara Municipal de São Paulo por todos os serviços prestados para o desenvolvimento e promoção da cultura popular brasileira.
Seria preciso mais do que um simples artigo para definir a importância de toda contribuição que o nosso grande mestre Nenê cedeu para o samba de São Paulo, pois sem sombra de dúvidas, toda essa grandeza e virtuosismo existente em nosso carnaval têm a marca das digitais de Alberto Alves da Silva.
Um dia o magnífico e genial Sambista e Compositor Geraldo Filme disse:
Silencio...
O sambista está dormindo
Ele foi mas foi sorrindo
A notícia chegou quando anoiteceu
Escolas...
Eu peço silencio de um minuto
O bexiga está de luto
O apito de Pato N Água emudeceu

É com esse refrão que no dia 04 de Outubro de 2010 nos despedimos do nosso grande mestre Alberto Alves da Silva o querido Nenê de Vila Matilde que sempre dignificou e engrandeceu o samba de São Paulo.
Aos 89 Anos, Morre mais um sambista de rua, artista do povo que será para sempre lembrado no seu reino de glorias.

Seu Nenê deixa filhos, netos, amigos e seguidores. Também nos deixa o ensinamento da importância de se preservar a cultura popular de matriz africana mais expressiva da terra, o nosso Carnaval, é fundamental para que possamos continuar a sentir emoção, inclusão social, inserção cultural e, acima de tudo, dignidade!

Eu, para sempre hei de te amar
Tirando primeiro, segundo ou em qualquer lugar
Estou falando é de você... minha querida Nenê!

Armando da Mangueira


Ainda não aprendemos a valorizar o sambista em vida. Assim como seu Nenê, temos grandes mestres do samba que se foram sem os devidos e merecidos “louros” e, mais do que isso, temos grandes mestres como: Toniquinho Batuqueiro, Carlão do Peruche, Tio Mario, Dona Olímpia, Dona China, Tia Lurdes, Seu Beto, dentre outros que devemos cuidar e valorizar, pois do contrário iremos cantar mais uma frase da música de Geraldo Filme que diz:
“E é mais um que foi sem dizer adeus!”

Que Oxalá te conduza pelo infinito de Orum onde estão tantos outros bambas imortais!

Asè,

T. Kaçula.

sábado, 28 de agosto de 2010

VASSOURINHA O GÊNIO PRODÍGIO

Ele nasceu Mário Ramos de Oliveira em 16 de maio de 1923 em São Paulo, filho de Mauro Almeida Ramos e Teresa Dias de Assunção, dados colhidos de sua carteira profissional, único registro encontrado.

Jaime Faria da Rocha, redator de textos comerciais da Rádio Record, vivia dizendo que na pensão onde morava havia um garoto com muito ritmo, cantor e tocador de pandeiro. No dia 10 de novembro de 1936, aos 12 anos de idade, foi admitido na rádio como contínuo, com salário de cem mil réis, no horário das 8 às 18 horas. À noite apresentava-se nos programas da emissora. Antes, em 1935, havia participado do filme "Fazendo Fita", último trabalho do diretor italiano Vittorio Capellaro, no qual se destacavam Alzirinha Camargo e a dupla Alvarenga e Ranchinho.

Ele começou cantando com o nome de Juracy, nome que servia tanto para homem como para mulher, já que sua voz tendia para timbres agudos, infantis. Em 1938, começou a intensificar suas atividades de cantor. O salário passou a ser de 300 mil réis e fazia muito sucesso cantando em dupla com Haidê Marcondes.

Houve um momento em que o nome Juracy já não lhe cabia bem, sendo necessário um apelido artístico mais convincente. Na Record, lembraram-se de um motorista de táxi (naquela época, chofer de praça) que havia em São Paulo, no Largo do Paissandu, cujo apelido era “Vassoura”. Negro muito alegre (“de risada escandalosa”, dizem os que o conheceram), ele havia conquistado essa alcunha pelo fato de, altas horas da noite, levar para casa os últimos freqüentadores do Ponto Chic, que, na ocasião, era o reduto da grã-finagem de São Paulo. Ou seja, este motorista “varria” os retardatários do Ponto Chic. Figura muito popular na capital paulista, “Vassoura” seria imediatamente lembrado ao se precisar de um nome artístico eficiente para o jovem Mário Ramos de Oliveira. Passaram então a inventar que Mário era filho do “Vassoura” – e assim ficou Vassourinha.

Foi nesse período que se tornou grande amigo de Isaura Garcia, também começando na Record, e apresentaram-se juntos em programas de rádio, em espetáculos de teatro e excursões pelo interior do Estado. Eles costumavam apresentar em dupla os números que Carmen Miranda cantava em dueto com Almirante e Luís Barbosa. Carmen Miranda tinha tanta admiração por ele, que quando vinha a São Paulo apresentar-se com sua irmã Aurora e o cantor Silvio Caldas, fazia questão de que Vassourinha participasse desses espetáculos.

Seu repertório nessa época era calcado quase todo no de Silvio Caldas, João Petra de Barros e Luís Barbosa. Este último, por sinal, havia sido o ponto de partida de Vassourinha. Luís Barbosa foi o introdutor do samba de breque, reconhecido como grande sambista, seja por sua bossa inigualável, seja pelas inflexões originalíssimas que imprimia ao que interpretava. Morreu de tuberculose em 1938, aos 28 anos de idade. Falou-se, na ocasião, que não haveria mais substituo para ele, pois do jeito que ele cantava ninguém mais seria capaz de fazer. Vassourinha demonstrava em tudo ser o sucessor natural de Luís Barbosa. Eles tinham a voz mais ou menos parecida, tendiam para as mesmas inflexões maliciosas do samba e gostavam de cantar acompanhando-se com pandeiro ou chapéu de palha. Foi, de fato, o que aconteceu. A partir de 1938, com o desaparecimento de Luís Barbosa, Vassourinha começa a ocupar-lhe o lugar. Nesse momento, seu único obstáculo para a projeção nacional é o fato de ser paulista e atuar em São Paulo. Mas, com todos os empecilhos que lhe são colocados pelas segregações do bairrismo nacional, ainda assim se faz notado e comentado em todo o país, a ponto de ter aparecido na capa da importante revista Carioca.

Pouco se sabe de sua vida particular já que sempre se mostrou muito reservado. Seus amigos mais próximos diziam que sempre que a conversa descambava para esse lado ele acabava mudando de assunto. O que se sabe é que morava na Barra Funda e não tinha irmãos.

Em 1940, enfim, surge a primeira oportunidade de gravação. Nessa ocasião, já ganhava 600 mil réis na Record e em sua carteira profissional constava que era “cantor e auxiliar de escritório”. O compositor Antônio Almeida tinha ido à rádio para acertar com a direção uma temporada com os Anjos do Inferno, de quem era uma espécie de empresário. Enquanto conversava com Raul Duarte e Blota Júnior, ouviu bem próximo alguém cantando seus sambas e descobriu ser um garoto do elenco da rádio a quem chamavam de Vassourinha. Raul Duarte pediu-lhe que usasse de sua influência no Rio de Janeiro para conseguir-lhe uma gravação. Vassourinha interpretava um choro de João de Barro e Alberto Ribeiro, “Seu Libório”, que havia sido lançado muito tempo antes por Luís Barbosa. Luís inclusive havia cantado “Seu Libório” no filme “Alo, alô, Carnaval”, de Wallace Downey e Ademar Gonzaga, lançado em 1936, mas como pertencia a outra gravadora, João de Barro – nesta época ligado a Columbia – não autorizou o registro, aguardando outra oportunidade. Essa era a oportunidade e Almeida usou esse argumento para convencer Braguinha a aceitar Vassourinha na Columbia. Do outro lado dessa gravação, colocariam outro choro – “Juracy” – este do próprio Almeida e de Ciro de Souza.

Em meados de 1941, Vassourinha gravava seu primeiro 78 rpm. Tinha cinco anos de rádio e dezessete de idade. “Seu Libório” e “Juracy”, desse disco lançado em 23 de julho de 1941, conquistaram extraordinário sucesso em todo o Brasil. Tinham no acompanhamento Chiquinho e seu ritmo. Na mesma sessão de gravação, Vassourinha havia gravado mais duas músicas, ao que tudo indica, “Emília” (de Haroldo Lobo e Wilson Batista) e “Ela vai à feira” (de Roberto Roberti e Almanyr Greco), que seriam lançadas em um 78 rpm dois meses depois, em 19 de setembro. Nem bem as duas primeiras músicas haviam se projetado como sucesso nacional, “Emília” também estourava, aumentando ainda mais o prestígio de Vassourinha e tornando-se o número mais característico de seu repertório. Em novembro, o cantor é chamado novamente ao Rio para gravar mais quatro músicas, ou como se dizia na época “quatro faces”. Registrou quatro músicas para o Carnaval de 1942: “Chik, chik, bum” (marcha de Antônio Almeida), “Apaga a vela” (marcha de João de Barro), “Olga” (samba de Alberto Ribeiro e Satyro de Mello) e “Tá gostoso” (marcha de Alberto Ribeiro e Antônio Almeida) que foram lançadas simultaneamente em dois discos em 3 de dezembro de 1941.

Com o sucesso no Rio, a Record começava a perdê-lo. Apesar do enorme sucesso, não chegou a ter um bom resultado financeiro já que se ganhava muito pouco com discos e shows. Costumava freqüentar o Café Nice, onde tomava chope e se encontrava com os maiores cantores e compositores da época. As duas derradeiras gravações de Vassourinha foram feitas em março de 1942, com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu regional. Os quatro sambas – “...E o juiz apitou” (de Antônio Almeida e J. Batista), “Amanhã eu volto” (de Antônio Almeida e Roberto Martins), “Amanhã tem baile” (de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e “Volta pra casa, Emília” (de Antônio Almeida e J. Batista) – saíram em discos respectivamente lançados em 25 de abril e 12 de maio, conquistando novo sucesso. Uma curiosidade: o J. Batista, parceiro de Almeida, não é outro senão o grande Wilson Batista, que, na ocasião, havia mudado para outra sociedade e por isso aparecia com outro nome. Autor de uma sociedade não podia fazer parceria com autor de outra, daí que Wilson se escondeu sob o nome do pai, José Batista, assinando como J. Batista.

Nessa época, começou a sentir os sintomas da doença que viria a vitimá-lo. Costumava agarrar-se aos cotovelos alegando dores estranhas nos ossos. Em julho de 1942, ao chegar de trem de São Paulo, Vassourinha telefonou ao compositor Ciro de Souza, marcando um encontro para tratar de detalhes da gravação que iria fazer de um novo samba dele chamado “Mademoiselle Joujoux”. Combinaram de se encontrar na Galeria Cruzeiro, na avenida Rio Branco. Ao ver Vassourinha, Ciro ficou espantado com sua aparência. Ele estava abatido, com febre alta e confessou não estar se sentindo bem. Ciro levou-o ao consultório de um amigo, Dr. Mário Braune, na rua São José, que o examinou durante 40 minutos e concluiu que o caso era muito sério e que era tarde demais. Ciro não entendeu direito a explicação do médico, mas parecia tratar-se de uma doença muito rara, onde entrava tuberculose, reumatismo e outras moléstias e que já havia atingido o coração, havendo necessidade de socorro urgente. Antes de aplicar-lhe uma injeção, o médico recomendou que o rapaz voltasse para São Paulo em passagem sem leito. Segundo ele, “se esse moço se deitar, não levanta mais”. Ciro comprou passagens para o trem das 21 horas, mas não pode acompanhá-lo na viagem pois era funcionário do Arsenal de Guerra e não podia faltar ao serviço. Ele explicou a situação ao chefe do trem, que vinha a ser um grande admirador de Vassourinha, e este prometeu que cuidaria dele durante toda a viagem e ajudaria na chegada a São Paulo. Pediu a Vassourinha que telefonasse ao Rio informando seu estado de saúde. Passados oito dias sem notícias, Ciro de Souza foi para São Paulo e encontrou-o em casa – descrita por Ciro como “muito limpinha, apesar de pobre” – com uma péssima aparência. Falava mal e mostrava-se muito ofegante. Isaura Garcia visitou Vassourinha durante essa fase e na sua opinião faltou-lhe assistência médica adequada. Sua mãe estava certa que a causa de todo o mal tinha sido a viagem ao Rio, onde deveria ter tomado algum golpe forte de ar e o tratava com benzeduras e arruda. Quando o médico chegou, já era tarde demais. Segundo Isaurinha, o médico lhe calcava o dedo na testa e os ossos afundavam, como se virassem pó.

A causa da morte de Vassourinha é até hoje desconhecida. Na baixa de sua ficha na Rádio Record, consta como tendo sido 31 de julho de 1942 a data de seu falecimento. Raul Duarte, porém, dizia ser 3 de agosto a data correta. O certo, enfim, é que desaparecia, aos 19 anos de idade, uma das maiores revelações de todos os tempos da música popular brasileira.

Suas 12 gravações – reunidas em um LP da Continental em 1976 - foram relançadas recentemente em CD na coleção "Arquivos Warner".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Os Novos Políticos

A Política é uma ciência humana que é discutida desde o surgimento de pensamentos
de grandes filósofos como Platão, Comte, Maquiavel, Sócrates, Marx, Hobbes, dentre outros.
Embora, ainda hoje, sejamos influenciados diretamente pelos pensamentos políticos dos filósofos citados acima, há uma considerável mudança no pensamento político contemporâneo e, este pensamento traz consigo um poder persuasivo no que diz respeito à política cultural. Este poder de persuasão implica na formação de opiniões e pensamentos neoliberais de políticas públicas na área das culturas de matriz africana. Mas, por trás desse neoliberalismo, há um interesse camuflado de desdém – tão velado – que tenta nos fazer acreditar que a cultura de matriz africana não tem tanta riqueza rítmica, literária, melódica e, por fim, que a nossa cultura é de certa forma irrelevante.
Os novos políticos (e quando falo de políticos, infelizmente, não me refiro aos nossos parlamentares) utilizam-se de estratégicas milenares para confundir aqueles que detém a tecnologia para o desenvolvimento de uma determinada manifestação cultural, ou seja, eles encontram uma maneira de se aproximar de forma amigável e, como quem não quer nada, vai conquistando a confiança dos envolvidos no âmbito da determinada manifestação cultural, criam uma situação onde os mestres da cultura usurpada se tornam dependentes do “político”. Em sua maioria, dependentes financeiros por encontrar-se muitas vezes em situações adversas à realidade do “político”.
Uma das culturas de matriz africana que mais é usurpada pelos novos “políticos” é o Samba. Talvez, por se tratar de uma manifestação cultural riquíssima em conteúdo, implique nas várias aproximações, oportunismos, apropriação indébita, etc.
É engraçado ver uma manifestação cultural que nasce como um elemento de resistência étnica e política e que, era vista como algo marginal diante o olhar da sociedade, ao longo de algumas décadas, se transforma em algo tão importante e discutível no âmbito da “neodemocracia” da cultura burguesa.
Mas, será que esses “novos políticos” estariam falando, cantando, ou mesmo, “tocando” o nosso bom e velho samba há 40 (quarenta) anos atrás, quando a censura imposta pela ditadura reprimia os SAMBISTAS que se manifestavam no velho centro da nova cidade governada pela burguesia arcaica e opressora?
A apropriação indébita se torna, a cada dia, um fato nos quilombos periféricos de nossas cidades e, o mais engraçado é que, eles, os “novos políticos”, tentam a todo custo reproduzir o velho discurso: “o samba não é negro e sim brasileiro”!
Vejo, a todo o momento, os “novos políticos” tentando e tentando reproduzir as rodas sagradas do universo negro brasileiro e, o que me deixa um tanto confortado é que, eles podem até reproduzir algumas de nossas manifestações culturais, mas ainda assim, lhes faltará uma coisa mais do que especial. Os “novos políticos” nunca terão a nossa Essência.

Patak Ori, Asè! .