sexta-feira, 6 de julho de 2012

Tadeu Augusto Matheus (T. Kaçula) é estudante de Ciências Sociais da FESPSP – Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo é também sambista e pesquisador do Samba Paulista. Atua nas áreas dos direitos humanos, política cultural, ação comunitária, políticas de Promoção da igualdade Racial, políticas públicas para as Juventudes, produção e organização de eventos Socioculturais. Ao longo de seu ingresso na faculdade procurou materializar sua atuação na discussão sobre o samba e cultura negra dentro da academia. Iniciou em 2005 um ciclo de debates sobre “Valores afro na formação política e cultural do Brasil” na Escola de Sociologia e Política e a partir de então foi convidado para participar como palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais. Palestrou no consulado brasileiro na Espanha, na Itália e Uruguai, nas universidades paulistas participou de eventos em sua própria faculdade, além de do Mackenzie, ECA da USP e faculdade de direito da USP, UNICID E UNICSUL. Por conta de sua trajetória enquanto sambista e pesquisador tornou-se Presidente do Núcleo de Pesquisas Clovis Moura "Fespspreto" da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (2009 – 2011). Vice Presidente da Escola de Samba Camisa Verde e Branco (2010-2012), diretor cultural da UESP (União das escolas de Samba Paulista), Presidente da ASC-SP - Associação dos Sambistas e Comunidades de Samba de São Paulo. Coordenador do projeto Samba Autêntico e idealizou e coordena o Projeto Rua do Samba Paulista, que leva milhares de pessoas para conhecerem os trabalhos das comunidades de samba paulista gratuitamente todo último sábado de cada mês no centro de São Paulo. Foi membro da equipe de coordenação do “Projeto Samba e Cidadania para Todos” que homenageou os grandes nomes da “Velha Guarda do Samba Paulista”, promovido pelo “Projeto Cultural Samba Autêntico” em parceria com a “União de Negros pela Igualdade - UNEGRO/SP”, a “União das Escolas de Samba Paulistanas – UESP”, universidade Cruzeira do Sul – UNICSUL”, em conjunto com a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania e Secretaria da Juventude Esporte e Lazer. Realizado no “Espaço da Cidadania”, localizado no Pátio do Colégio, centro da cidade de São Paulo, e posteriormente nas unidades do Centro de Integração da Cidadania – CICs, com a organização de oficinas de cidadania sobre o samba e a comunidade. Criador do projeto de uma Casa de Cultura no Bairro da Casa Verde zona norte de São Paulo, uma espécie de Centro de Referência para a Juventude abrangendo várias atividades culturais, dando assim uma oportunidade de levar a cultura e a cidadania para os jovens da periferia. Coordenador do projeto “O mapa do samba Paulista” que pesquisa e mapeia todas as iniciativas culturais ligadas ao Samba no Estado de São Paulo. v Cultura como um direito à cidadania Um dos grandes desafios para a consolidação da democracia brasileira, permeada de justiça social, é o amadurecimento de uma sociedade em que as diversas comunidades e seus diversos matizes, as diversas pessoas,independentemente de suas características culturais e condições físicas e etárias, venham, enfim, a atuar na sociedade em igualdade de oportunidades e condições. Dentre esses diversos matizes a cultura constitui uma referência fundamental. Na ConstituiçãoFederal, em seu artigo 215 é abordada a questão do pleno exercício dos direitos culturais e doacesso às fontes da cultura nacional, da valorização e difusão das manifestações culturaispopulares, indígenas e afro-brasileiras, assim como a de outros grupos participantes do processocivilizatório nacional. A Declaração Universal dos Direitos Humanos ressalta, como um direito a serpromovido por todos os povos e todas as nações, em seu Artigo 27, que “todapessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, defruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios”. Por sua vez a “Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural” proclama que“os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são universais,indissociáveis e interdependentes. (...) Toda pessoa deve, assim poder expressar-se, criar e difundir suas obras na língua que deseje e, em particular, na sua línguamaterna; toda pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidadeque respeite plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poderparticipar na vida cultural que escolha e exercer suas próprias práticas culturais,dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos humanos e às liberdadesfundamentais. Em outras palavras, a Constituição e as diversas Declarações citadas colocam acultura como um bem que está aí para ser preservado e fruído. Cultura que adquireformas diversas através do tempo e do espaço. Diversidade que se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades quecaracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte deintercâmbios, de inovação e de criatividade. Assim, a cultura e a sua diversidadeconstitui patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidadaem benefício das gerações presentes e futuras. Tais circunstâncias apontam para o reconhecimento de que à igualdade e oexercício da cidadania estão atrelados a proposição de tratamento igualitário àsculturas dos diversos grupos étnicos, uma política multicultural que reconhece aigualdade do valor intrínseco de cada cultura, pois esta possibilita a expressão docaráter particular específico a cada povo. Por extensão, toda e qualquer simulação estabelecendo a superioridade/inferioridade de uma cultura em relação a outraimplica na marginalização e, consequentemente, na criação de obstáculos aqualquer tentativa de promoção da cidadania. Consideradas essas proposições, além de diversos estudos que indicam a persistência de práticasrotineiras discriminatórias em relação à cultura popular, em particular aquelas de matrizafrodescendente, tanto no espaço público como no privado, e da emergência de novas demandasde direitos que concorrem para compor um novo cenário de lutas pela cidadania, a democratização da cultura, constitui uma ação de caráter positivo destinada a promover um maior conhecimento,respeito e valorização da cultura popular, de matriz negra-africana e afrodescendente, através doresgate, promoção, divulgação e manutenção da memória da cultural popular, herança e expressão,legada ao povo brasileiro enquanto elemento nato de sua constituição identitária e de suanacionalidade. As manifestações culturais periféricas incluem-se entre as inúmeras estratégias eações desenvolvidas pela sociedade civil organizada. Trata-se da promoção deintercâmbio e interação entre a população em geral e os diversos movimentos,ações socioculturais e ações individuais desenvolvidas no âmbito do territóriopaulista e brasileiro; um “ajuntamento” de iniciativas empreendidas por um conjuntode praticantes, aficionados, admiradores e entusiastas do samba e das suastradições, verdadeiras peças de resistência cultural, dispostos a defender essefrutífero terreiro de produção cultural brasileira. Assim adequa-se aos objetivos da promoção de políticas públicas de combate às desigualdades raciais, pois através do processo de produção e difusão sócio-cultural e artística voltada a afirmação da diversidade e da promoção da igualdade racial, contribuiu para o conhecimento e reconhecimento do grande público brasileiro das contribuições culturais da população, constitui o acervo nesta área e serve de fonte de informação para a conscientização da sociedade brasileira acerca do problema da segregação cultural e outras formas de preconceito e discriminação de cidadãos. Imaginação e criatividade formando uma rede, ampliando o público, apoiando, promovendo, divulgando e fortalecendo as novas iniciativas, defensoras e herdeiras da cultura tradicional, comumentemente denominado “cultura raiz”; promovendo a reaproximação entre os fundadores, osjovens e o universo da cultura popular. Enfim, reaproximando-os das suas próprias histórias. Estimulando a troca de informações, o reconhecimento de cantores, compositores, ritmistas, poetas, atores, e instrumentistas anônimos. Constituindo um espaço único para ver, ouvir eparticipar de depoimentos; conhecer trajetórias de vida, heróicas e épicas, de “pessoas anônimas”;além de contribuir para o surgimento de novos amantes da cultura. Uma pertinente democratização cultural dá vez à produção e consumo de pérolas raras, um novo e significativo capítulo da culturabrasileira: por exemplo: o samba, a capoeira, o teatro, a musica, etc. implicam no vínculo com avida coletiva e comunitária, restringe o distanciamento da comunidade, pois a articulação em grupoé a expressão natural da vivência das pessoas é o testemunho de uma vivência real e daconsciência do valor daquela manifestação cultural, fruto explícito da cultura do povo e não do povoda cultura. Um panorama histórico da cultura na cidade de São Paulo. A cidade de são Paulo é hoje uma das maiores e mais importantes cidades com uma ampla diversidade cultural do mundo. Algumas pesquisas mostram que a cidade de São Paulo é, hoje, a cidade mais multi-cultural da América latina somando mais de 30 expressões culturais existentes na capital paulista. A cultura da cidade de São Paulo é considerada uma das mais ricas do Brasil, tendo consolidado a cidade como local de origem de toda uma série de movimentos artísticos e estéticos ao longo da história do século XX. Além de rivalizar com o Rio de Janeiro o status de sede das principais instituições culturais do país, é, também, nesta cidade que grande parte da cultura brasileira dita "erudita" costuma se formar. São Paulo possui uma ampla rede de teatros, casas show e espetáculo, bares, instituições de ensino, museus e galerias de arte. Tal complexo cultural, porém, localiza-se em geral nas regiões centrais da cidade (ou naquilo que é chamado "Centro expandido"), de forma que são comuns as críticas de certos estudiosos do fenômeno urbano no sentido de explicitar a possível segregação espacial que osmoradores das regiões mais periféricas das cidades vivenciam, tendo eles, segundo tais perspectivas, negado o seu direito à cidade. Esta São Paulo que "fervilha cultura", portanto, acaba também sendo considerada uma São Paulo "ideal", visto que não corresponde à realidade da maior parte da população. A cidade é bastante heterogênea e é possível dizer que a cultura paulistana é fruto da interface da cultura dos vários povos que emigrarampara ela durante a primeira República, em união a elementos culturais dos períodos coloniais e imperial. Dentre tais culturas, destacam-se a Africana, a italiana, a japonesa, a portuguesa e a espanhola. Traços desta mistura são evidentes em regiões da cidade consideradas "tipicamente italianas", como o Bixiga ou "tipicamente japonesas", como o bairro da Liberdade. v Encaminhamentos: Mapeamento das produções culturais na cidade de São Paulo. Para compreendermos a complexidade existente na diversidade cultural da cidade de São Paulo, é fundamental olharmos de forma minuciosa e antropológica quais e onde estão as manifestações culturais existentes em nossa cidade haja vista o fato de que para se pensar uma política cultural que viabilize a democracia e a inclusão cultural é preciso saber quais, quantas e onde estão as iniciativas culturais a serem fomentadas. Senso da cultura paulistana. Neste sentido, a criação de um “Mapa ou Senso” da cultura paulistana contribuiria para a organização de políticas de incentivo a cultura uma vez que se conhece e de forma detalhada quais são as manifestações culturais das diversas áreas que compõe a cara da cultura paulistana. Qual é a cara da cultura na cidade de São Paulo? Pensando a cidade de São Paulo do ponto de vista cultural, a diversidade étnica, religiosa, turística, etc. faz com que haja uma espécie de miscelânea cultural que nos dificulta a identificar qual é a cara da cultura na cidade de São Paulo! Mas, se temos diversas faces culturais, é preciso identificar quais são essas manifestações, registrar, compreender as suas especificidades para que possamos pensar as políticas convergentes com as suas necessidades. Descentralização da cultura. É impreterivelmente importante a socialização da cultura na cidade de São Paulo. As ações culturais organizadas pela atual gestão propõe uma centralização das inúmeras atividades organizadas pela Secretaria Municipal de Cultura ocasionando, assim, um déficit cultural nas diferentes e longínquas regiões da periferia de São Paulo. Neste sentido, é preciso se estabelecer uma política que possa contemplar todas as regiões da cidade com as políticas culturais que, descentralizadas, possam oferecer um serviço público de qualidade para toda a população. Democratização cultural. É inevitável dar um caráter de irrelevância para a falta de democracia cultural ao qual vivemos atualmente na cidade de São Paulo. O projeto elitista e excludente que a atual gestão está implementando na região central bem como em boa parte da região oeste de nossa cidade por conta da especulação imobiliária, impõe uma falta de democracia sociocultural inviabilizando as diversas ações culturais realizadas pela sociedade civil organizada. Neste sentido, a criação de ações convergentes à ampliação e socialização das inúmeras atividades existentes na cidade de São Paulo que possam contemplar a população em uma política de inclusão cultural dando a devida importância para o direito à democracia vigente na constituição brasileira. Equipamentos públicos. Ø Casas de cultura: Ampliação das atividades culturais nas Casas de Cultura existentes bem como aumentar o numero de espaços culturais nas periferias de toda a cidade. Ø CEUs: Incluir na programação das unidades dos CEUs as atividades culturais realizadas na região ao qual está instalada a unidade propondo maior interatividade com a comunidade, bem como levar os serviços públicos realizados em outras unidades de cultura espalhados por outras regiões provocando, assim, um intercâmbio com outras ações potencializando a diversidade cultural que é o cartão postal de nossa cidade. Ø Centros culturais: Os poucos centros culturais existentes em nossa cidade são ineficientes e órfãos de uma política cultural que dê visibilidade para esses espaços bem como para as diversas iniciativas culturais que se manifestam nas diferentes regiões, em especial na periferia, de cidade. É preciso uma ação mais eficaz de combate à ociosidade desses espaços criando programas culturais que viabilizem o uso cotidiano das comunidades localizadas nas regiões onde este equipamento público está instalado para que, dessa forma, haja uma importante e verdadeira inclusão cultural da população menos favorecida. Ø Teatros: Uma das práticas culturais menos fomentadas por meios de políticas públicas é o teatro alternativo. Esse seguimento mobiliza centenas de pessoas em torno da arte e da cultura fazendo com que haja uma continuidade importante na luta pela popularização do Teatro brasileiro tendo como referenciais nomes como Plínio Marcos que sempre defendeu a importância do teatro alternativo como uma forma de expressão popular. Contudo é fundamental uma política que viabilize a popularização e potencializarão das salas de teatro geridas pela prefeitura da cidade de São Paulo para que essas produções e iniciativas culturais possam ser contempladas e, por sua vez, contemplar a população com mais inclusão cultural. Ø Bibliotecas: “Faça a revolução nas escolas que o povo faz a revolução nas ruas” (Florestan Fernandes). As bibliotecas públicas estão em nossa cidade estão, infelizmente, em um subimerso estado de abandono. Vemos uma preocupação de manter apenas as Bibliotecas da região central da cidade em pleno estado de conservação e atividade como a Biblioteca Mario de Andrade reformada recentemente. Promover a pratica da leitura aliada a outras ações culturais como saraus, leitura de textos por artistas renomados, grupos de estudos sobre a literatura brasileira, dentre outros, nos equipamentos públicos instalados nas diversas regiões de nossa cidade, é papel da prefeitura. Porém não é exatamente o que vemos nas políticas criadas pela atual gestão. FEIRAS CULTURAIS: São diversas as modalidades de feiras culturais espalhadas por todas as regiões da cidade de São Paulo. A promoção, organização e gestão dessas feiras quase sempre estão a cargo da sociedade civil organizada através de ONGs, OSCIPs, Institutos, etc. e contam com o apoio da prefeitura de São Paulo por meio de Secretarias de Cultura, Participação e Parceria, Trabalho, Turismo dentre outras. Neste sentido, é imprescindível uma ação por parte da nova gestão municipal determinar os critérios de organização, quais as secretarias envolvidas, qual a secretaria proponente bem como da organização das atividade denominadas por feiras culturais. CARNAVAL = Cultuta/Turismo Por décadas o carnaval foi o maior evento cultural da cidade de São Paulo. Após todo esse período, o carnaval só perdeu espaço para a Formula 1 e, recentemente, para a parada do orgulho gay, pois em volume de pessoas esses eventos mobilizam cerca de quatro milhões de pessoas. Com uma estimativa de duzentas mil pessoas, o carnaval de São Paulo é um espetáculo a céu aberto que reúne cultura, turismo, trabalho, infraestrutura, segurança pública, comunicação, dentre outras carteiras que compõe boa parte do secretariado que compõe a gestão pública da cidade de São Paulo. Este setor requer um olhar mais polido e minucioso, pois se trata de uma das mais importantes secretarias (SPTuris) e que, além do carnaval, desenvolve outros importantes eventos na cidade de São Paulo como a Formula Indi e os demais grandes eventos culturais em nossa cidade. VIRADA CULTURAL “Um evento gratuito que atrai anualmente um público circulante de milhões de pessoas durante 24 horas de programação cultural ininterrupta. Organizada pela Secretaria Municipal de Cultura, este encontro cultural reúne as diferentes classes sociais, todas as faixas etárias, inúmeras tribos, numerosas plateias, todos os horários.” Segundo o site oficial da Virada Cultural, há uma inclusão social, cultural, política, etc. das pessoas que participam da festa. Na realidade nem tudo é tão bonita assim! Há sim, um déficit incalculável de inclusão sociocultural nessa ação político-partidária, pois a maior parte da população que está segregada nas longínquas regiões periféricas da cidade de São Paulo não é contemplada por essa política cultural elitista e excludente. Outro fator a ser observado é a falta de incentivo e apoio aos artistas paulistanos que, há quatro anos não participam da programação musical da virada cultural. É preciso, também neste caso, se pensar uma política descentralizadora e mais democrática principalmente em relação aos artistas que periodicamente desenvolvem seus trabalhos culturais e artísticos durante todo o ano na cidade de São Paulo. EU TENHO... VOCÊ TEM?